Luta de classes e movimentos marginalizados são temas no Encontro da
Articulação Paranaense por Educação do Campo
Yvi Leíse Rosa Calvani
Acadêmica de jornalismo da Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Foto: Acadêmicas de jornalismo da UEL
O Encontro Estadual da
Articulação Paranaense Por Uma Educação do Campo abordou na manhã de sexta-feira,
dia 23, a “Agricultura Familiar e Camponesa no contexto da luta de Classes”.
Representantes de entidades da Associação de Estudos, Orientação e Assistência
Rural (Assesoar), Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do
Paraná (FETAEP) e Instituto Federal do Paraná (IFPR) estiveram presentes para
debater o tema.
Valdir Soares, da Assesoar, foi
um dos palestrantes da mesa. Dentre os diversos pontos discutidos, Soares
destacou que houve um crescimento educacional desde o encontro realizado em
Porto Barreiro, mas um dos desafios ainda enfrentados é falar menos dos avanços
e mais do que é necessário aprimorar.
Alguns aspectos pontuados por
Soares foram o crescimento desenfreado do capitalismo e o poder de riqueza que
manipula e domina consciências. “O capitalismo tira a riqueza de duas formas:
pressão sobre a condição econômica dos trabalhadores dos países periféricos e
apropriação dos bens coletivos naturais como minérios, terra e água”, aponta.
Para Soares, houve mudança na
política de governo, mas nunca houve mudança na acumulação do capital. Ele
afirma que metade do orçamento anual brasileiro vai para os juros da dívida.
Segundo estimativas, 43,98% dos recursos são destinados para os juros da
dívida, enquanto apenas 3,34% ficam centrados à educação.
A questão da adaptação
tecnológica também foi abordada pelo representante. “Enxada e foice nos
constituíram, mas não são mais as ferramentas do campo”, aponta. Para ele, é
necessário enxergar as mudanças e enfrentar os desafios oferecidos.
Finalizando a palestra, Soares
lembra que a educação deve estar direcionada na historicidade (o que foi vivido
é uma trajetória de luta e não pode ser esquecido) e totalidade (a educação faz
parte do movimento da sociedade capitalista). O representante fez a questão de
salientar que as muitas bandeiras vistas durante o encontro, algumas vezes são
mais marketing do que desenvolvimento concreto. “Que esse não seja um evento
que vira vento”, brinca.
A mesa teve continuidade com
Márcio Serenini, da FETAEP. O representante focou sua palestra em três
aspectos: conceituar a Federação, apontar o projeto de desenvolvimento rural e
sustentável e mostrar as atividades desenvolvidas para educação no campo.
Serenini apontou a importância do
Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTTR), que beneficiam mais de 20
milhões de trabalhadores rurais no Brasil, centralizados em mais de quatro mil
sindicatos, estando 300 deles no Paraná.
Dentre as ações desenvolvidas
pela FETAEP, Serenini destacou como fundamentais aspectos como a implementação
de políticas publicas; os benefícios previdenciários; os direitos trabalhistas;
a defesa da agricultura familiar e do modelo ambiental; o desenvolvimento
territorial; a ampliação de cooperativismo de crédito; a valorização da mulher
trabalhadora rural, jovens e idosos; o acesso à saúde, habitação e educação; a
erradicação do trabalho escravo e infantil e a luta pela reforma agrária.
Como fechamento da rodada de
palestras da manhã, o professor Roberto Souza Martins, da IFPR, tomou como foco
os outros movimentos existentes e como são marginalizados. Para ele, a
reconfiguração da luta agrária envolve povos de todas as comunidades do Paraná.
“Se a gente não decifrar a realidade vai ser devorado por ela”, alerta.
A reconfiguração paranaense proposta
por Martins aborda os confrontos e lutas territoriais de vários povos como os
faxinalenses, pescadores artesanais e camponeses, ilhéus, ciganos, benzedeiras,
membros do movimento caiçara, cipozeiros, indígenas e representantes de
religiões da matriz africana. “Esses povos correspondem a um número de 800 mil
pessoas que lutam por terras e direitos, mas são alvos de repressão,
preconceito e violência” aponta.
Para o professor, a necessidade
atual é de retraduzir, resignificar quem são esses novos sujeitos da luta
política. “Os antagonistas sociais continuam sendo os mesmos e não conseguem
mais combater os movimentos como combatiam quando eram posseiros” relata. Entre
os antagonistas, são apontados o agronegócio, obras governamentais e a
violência privada praticada por jagunços.
Segundo Souza, a repressão a
esses grupos é acentuada, pois eles estão crescendo principalmente nas áreas de
expansão do agronegócio. A cana, soja e o eucalipto plantado no Paraná
correspondem uma área 10 vezes maior do que a área demandada pelos povos.
O alerta feito por Souza diz
respeito a como a educação do campo vai ler esse contexto de movimentos e
lutas? Como pensar a relação de ensino e aprendizagem desses grupos? O educador
vai construir a relação a partir do momento que reconhecer as realidades de
vida de tais povos.
Antes do fechamento da mesa da
manhã, os assuntos foram abertos para perguntas à plenária. Questões sobre a privatização
do ar, a relação de que o campo sozinho não puxa revolução, integração entre os
movimentos, a percepção dos governos para essas novas necessidades campesinas,
a comunicação entre os núcleos regionais de ensino e o repasse dos
conhecimentos obtidos durante o encontro para as escolas foram colocadas em
pauta pelos participantes da plenária, debatidas e respondidas pelos membros da
mesa.
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